terça-feira, 20 de novembro de 2012

PROVA: GARANTIA DE EFICÁCIA NA AVALIAÇÃO?



Andreza Cristina Santos de Araújo
Avaliação Educacional – Profª Jeane Costa


Resumo
Esse artigo tem como objetivo a discussão da prova escrita como instrumento de avaliação do educando na escola regular e as possíveis estratégias utilizadas para que esta não se torne uma ferramenta à exclusão.
Para que sejam traçadas possíveis estratégias, devemos entender o educando e suas diferentes identidades. Para isso, foram abordados aspectos relevantes sobre a educação e diferentes formas de avaliação e suas especificidades. Aborda-se o seu objetivo no processo de ensino-aprendizagem e possíveis estratégias nas diversas formas de avaliação do educando.
Nesse estudo foram realizadas pesquisas de cunho bibliográfico que propiciaram o conhecimento de prova como instrumento avaliativo dentro do processo de ensino e da aprendizagem. Por fim, este estudo objetiva a discussão acerca da avaliação escolar, apontando propostas pedagógicas com novas perspectivas para esse instrumento de avaliação denominado prova.

Palavras-chave: Prova. Avaliação. Estratégias. Aprendizagem.

Introdução
Tendo em vista que a avaliação é um dos temas mais pesquisados e discutidos atualmente, no meio educacional, devido à sua complexidade e amplitude de sua temática, venho por meio desse trabalho discutir a prova como instrumento avaliativo, observando dentro de suas possibilidades a compreensão de todo o universo em que ela está, enquanto instrumento avaliativo, inserida. Para fundamentar esse estudo foram feitas pesquisas de caráter bibliográfico e partir de abordagens estudadas a partir de outros autores sobre o tema, foram levantadas discussões em prol da utilização da prova enquanto instrumento de avaliação.
A partir das reflexões presentes neste estudo objetiva-se a argumentação da generalização a cerca do tema avaliação que, embora presente no discurso das escolas como instrumento que está a serviço do ensino e da aprendizagem significativa acaba por rotular ou excluir o educando enquanto sujeito desse processo.
O objeto dessa abordagem será o uso da prova ou teste como instrumento de avaliação. O principal recurso metodológico foi a pesquisa bibliográfica com vistas em como esse instrumento é utilizado hoje nas escolas e qual a sua importância para a construção do conhecimento.

1.                  Avaliação: o que é, como surgiu e qual a sua importância?

De acordo com a origem da palavra, que vem do latim a + valere, avaliar significa atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. Logo, avaliar “é emitir um juízo de valor a respeito de uma grandeza, com determinados propósitos” (SANTOS, 1996, p. 12), é atribuir esse juízo sobre a propriedade de um processo para o julgamento da qualidade do seu resultado. Podemos dizer que a avaliação da aprendizagem é um sistema de verificação pela qual todos os alunos devem passar para a mensuração dos seus conhecimentos adquiridos.
Segundo Perrenoud (1999), a avaliação surgiu juntamente com os colégios por volta do século XVII, e tornou-se inseparável do ensino coletivo, desde o século XIX, com a chegada da escolaridade obrigatória. A partir de então, o tema tornou-se alvo constante de vários estudos que tem por objetivo encontrar respostas satisfatórias para saber como de fato uma avaliação deve ser feita de forma eficaz e eficiente.
Se pararmos para refletir a cerca da importância da avaliação com vistas em uma educação voltada para a formação do educando enquanto indivíduo voltado para a cidadania, deveria trata-se de uma necessidade fundamental para uma prática educativa mais justa e igualitária. Logo, o processo avaliativo deveria levar em consideração o foco humanitário, emocional, o conhecimento prévio do educando. Dessa forma, a avaliação deve ser pensada com ferramenta para o crescimento do educando, assim como para construção de sua cidadania e de sua autonomia.

2.                  Avaliação Escolar e suas especificidades: qual o seu sentido?

Durante muito tempo, principalmente no período em que foi compreendida a educação tradicional, a avaliação era fortalecia o poder que o professor tinha em sala de aula. Podemos ver claramente quando Moretto (2007, p. 58) nos mostra frases como: “anotem, pois vai cair na prova” ou ainda “se não ficarem calados vou fazer prova surpresa”, demonstram a forma repressiva e autoritária que tem sido utilizada a avaliação da aprendizagem. Isso faz com que a avaliação seja vista pelos educandos como um castigo e, muitas vezes, pelos professores como um meio de demonstrar sua autoridade, utilizando-a como forma de punição.
A partir de prática como estas a avaliação tem sido explicitada através das notas que os alunos conseguem obter. Logo, a forma pela qual essa avaliação é representada pelos professores, provoca sérios prejuízos àqueles que a ela são submetidos, os educandos.
Não podemos esquecer que o processo de avaliar está presente a todo o momento no processo de ensino aprendizagem e não o contrário, ou seja, ensinar para avaliar. Vale destacar que a partir de práticas como estas, fazem com que a avaliação torne-se um instrumento excludente na escola, onde os alunos que ficam reféns das notas esperadas tornam-se inferiores aqueles que conseguem obter êxito no quesito avaliativo. Dessa forma acabamos por rotular os educandos de acordo com a nota que este educando atingiu na prova escrita.
Porém, a aprendizagem não deve, pelo menos não deveria estar atrelada a nota. O processo de ensino-aprendizagem é muito mais amplo. Não devemos julgar os conhecimentos dos educandos em um dado momento, ao momento da prova propriamente dita.
Segundo Melchior (1999), “a avaliação deve permitir identificar os progressos e dificuldades dos alunos no decorrer de todo o processo de ensino-aprendizagem verificando o cumprimento da função pedagógica”. Dessa forma, pode ser vista com auxílio para classificar os objetivos e metas educacionais, um processo para determinar em que medida os alunos estão se desenvolvendo.
Outra perspectiva de avaliação nos é apresentada, mais uma vez, através de Perrenoud (1999), que afirma que ela deve ser contínua, diversificada e intencional. A avaliação contínua permite ao professor acompanhar o desenvolvimento, o progresso e as dificuldades do educando. A avaliação também deve ser participativa, sendo discutida por todos os envolvidos no processo, tanto educandos quanto professores, para que assim, todos se vejam como corresponsáveis pelos resultados obtidos através dela. 









3.                  Avaliação: TRADICIONAL X CONSTRUTIVISTA

A forma como se avalia é crucial para a concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos educandos o que o professor e a escola valorizam. A seguir, na tabela 1, é traçada uma comparação entre a concepção tradicional de avaliação e a concepção construtivista, relacionando-as com as implicações de sua adoção.

Tabela 1 – Comparação entre a concepção Tradicional de avaliação com a concepção Construtivista 

MODELO TRADICIONAL DE AVALIAÇÃO
MODELO CONSTRUTIVISTA DE AVALIAÇÃO
Foco na promoção – o alvo dos alunos é a promoção. Nas primeiras aulas, se discutem as regras e os modos pelos quais as notas serão obtidas para a promoção de uma série para outra.
Foco na aprendizagem - o alvo do aluno deve ser a aprendizagem e o que de proveitoso e prazeroso dela obtém.
Implicação – as notas vão sendo observadas e registradas. Não importa como elas foram obtidas, nem por qual processo o aluno passou.
Implicação - neste contexto, a avaliação deve ser um auxílio para identificação dos quais objetivos atingidos, quais ainda faltam e quais as interferências do professor que podem ajudar o aluno.
Foco nas provas - são utilizadas como objeto de pressão psicológica, sob pretexto de serem um 'elemento motivador da aprendizagem'. É comum ver professores utilizando ameaças como "Estudem! Caso contrário, vocês poderão se dar mal no dia da prova!" ou "Fiquem quietos! Prestem atenção! O dia da prova vem aí e vocês verão o que vai acontecer...”.

Foco nas competências - o desenvolvimento das competências previstas no projeto educacional deve ser a meta em comum dos professores.
Implicação - as provas são utilizadas como um fator negativo de motivação. Os alunos estudam pela ameaça da prova, não pelo que a aprendizagem pode lhes trazer de proveitoso e prazeroso.
Implicação - a avaliação deixa de ser somente um objeto de certificação da consecução de objetivos, mas também se torna necessária como instrumento de diagnóstico e acompanhamento do processo de aprendizagem.
Os estabelecimentos de ensino estão centrados nos resultados das provas e exames - eles se preocupam com as notas que demonstram o quadro global dos alunos, para a promoção ou reprovação.
Estabelecimentos de ensino centrados na qualidade - os estabelecimentos de ensino devem preocupar-se com o presente e o futuro do aluno, especialmente com relação à sua inclusão social (percepção do mundo, criatividade, empregabilidade, interação, posicionamento, criticidade).
Implicação - o processo educativo permanece oculto. A leitura das médias tende a ser ingênua (não se buscam os reais motivos para discrepâncias em determinadas disciplinas).
Implicação - o foco da escola passa a ser o resultado de seu ensino para o aluno e não mais a média do aluno na escola.


4.                  Funções do processo avaliativo

As funções da avaliação podem ser classificadas em: diagnóstica, verificadora e somativa ou integradora.

4.1  Avaliação Diagnóstica

Normalmente é realizada no início do processo de ensino aprendizagem e seu objetivo é identificar o nível inicial de conhecimento e habilidades dos educandos necessários para novas aprendizagens. Esse tipo de avaliação permite ao professor a adequação de suas estratégias de ensino às necessidades de cada aluno.

4.2  Avaliação Formativa

É realizada ao longo do processo de ensino aprendizagem, com a intenção de verificar se os objetivos dos sujeitos envolvidos no processo (educandos e professores) foram atingidos ou não. Essas informações são de extrema importância para que haja o aperfeiçoamento desses objetivos.
Para Zabala (1998, p. 200) “o conhecimento de como cada aluno aprende ao longo do processo de ensino e aprendizagem, para se adaptar às novas necessidades que se colocam, é o que podemos denominar de avaliação formativa.”.

4.3  Avaliação Somativa ou Integradora

Esse tipo de avaliação ocorre no final do processo e tem por objetivo verificar o que o aluno efetivamente aprendeu. Nas escolas, de modo geral, a avaliação somativa é a decisão tomada no final do ano letivo para deliberar sobre a aprovação ou reprovação dos educandos que não obtiveram êxito no processo de ensino aprendizagem.


5.                  Prova como instrumento de avaliação

Um dos métodos mais utilizados, no meio educacional, para a verificação da aprendizagem obtida pelos alunos é a prova escrita. Por ser um tema polêmico, tornou-se alvo de constante de estudos e discussões, visto que a prova é vista como instrumento incompleto para esta avaliação formativa, pois é aplicada a um grupo de alunos que passaram pelo processo de aprendizagem. Dessa forma, vai de em contraposto à avaliação formativa, a qual diz que se devem estabelecer seus próprios instrumentos, e que a prova não seja o único método avaliativo a ser utilizado. Além do que os alunos se veem obrigados a estudar os conteúdos aprendidos para a realização da prova.
Como já foi explicitado anteriormente, Luckesi (2005, p. 173) aponta que “[...] a prática de provas e exames exclui parte dos alunos por basear-se no julgamento” e que “[...] os professores utilizam provas como instrumento de ameaça e tortura prévia dos alunos”.
Tendo em vista que em nossa cultura a prova é um dos meios mais utilizados para a verificação dos resultados obtidos pelo estudante, deve-se pensar numa maneira mais adequada de elaborar as provas. Pois ainda hoje vemos provas sendo elaboradas em forma de perguntas e respostas, esperando que o educando responda fielmente aquilo que lhe foi transmitido durante a aula. Para Moretto (2007, p.16) “[...] a realidade de muitas escolas ainda é esta, pois, apesar de estarmos na era dos computadores, há ainda quem obrigue os alunos a copiar e na prova reproduzir o que copiou.”.
É necessário esclarecer que a prova é uma formalidade do sistema escolar, e deve-se ter inúmeros cuidados em sua elaboração e aplicação, de forma que os educandos não se sintam desvalorizados por conta de uma verificação de “baixo” rendimento quando comparado ao padrão dos demais estudantes. Neste âmbito Sant’anna (1995, p. 14) nos afirma que:

As diferenças individuais se fazem presentes e se faz necessário averiguar em que extensão cada indivíduo atingiu o objetivo estabelecido no início do planejamento, tendo-se por parâmetro o próprio indivíduo, e não suas dimensões em relação ao grupo.

Logo, a prova vista como instrumento formal de aprendizagem, se não for associada a uma avaliação contínua de aprendizagens, não assegurará o caráter formativo da avaliação desenvolvida. Dessa maneira, as provas não podem ser os únicos instrumentos para avaliar o rendimento do educando, uma vez que possui caráter classificatório e excludente. Nessa perspectiva, o educador não deve admitir que os resultados das provas estejam acima de suas observações diárias. Pois no momento em que é registrado o rendimento do aluno por meio de uma nota, advinda da prova, propicia-se a fragmentação da avaliação educacional. Se a avaliação é reconhecida como uma função orientadora do processo de aprendizagem, a fragmentação mencionada leva à perda do dinamismo deste processo.
Podemos concluir que a prova deve ser encarada apenas como um momento na avaliação periódica, uma ferramenta de trabalho por parte do professor, dando-lhe suporte para avaliar de fato aquilo que tem seu aluno em conhecimento.



6.                  Conclusão

As questões avaliativas envolvem reflexões atuais tendo em vista que já não podemos consagrar modelos tradicionais a uma questão tão importante como esta. Desse modo, a compreensão do processo avaliativo no cotidiano escolar é merecedor de grande reflexão, ultrapassando a medida em seu significado.
Por mais clara que seja a relação de poder envolvendo a avaliação, Deve-se conscientizar o educando quanto à importância do estudo não apenas para o "passar" na prova e também dos professores, em avaliar não somente para a promoção do educando à outra série, mas para um acompanhamento do que este educando tem apreendido e compreendido em sala de aula e, com isso, refletir sobre suas práticas de ensino.
Podemos concluir que a ideia de prova está presente no processo avaliativo, e isso não é um mal, desde que seja identificada como fonte de estímulo para o progresso, ou ainda como um indicador de que novos planejamentos didáticos devem ser utilizados, caso não tenho ocorrido um plena aprendizagem por parte do educando.





Referências Bibliográficas

LUCKESI, C. Cipriano. Avaliação da aprendizagem escolar. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

MELCHIOR, Maria Celina. Avaliação Pedagógica: função e necessidade. 2ª Ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1999.

MORETTO, Vasco Pedro. Prova: um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas. Local: Lamparina, 2007.

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre  duas lógicas. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

SANT’ANNA, Ilza Martins. Porque avaliar? Como avaliar? Critérios e instrumentos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

SANTOS, Wlademir. Avaliação do aproveitamento. Alguns conceitos para a prática em sala de aula. Revista de Estudos Universitários, Sorocaba (SP), v. 22, n. 1, p. 09-22, jun. 1996.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artemed, 1998.

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